Como evitar que o uso de eletrônicos impacte na qualidade de vida?

Na atualidade, a tecnologia estabeleceu conexões entre todos. Ela permeia o ambiente de trabalho, o lar e até mesmo os momentos de recreação. É inegável que a internet, computadores, telefones e outros dispositivos contribuem significativamente para simplificar a vida. Agilidade na comunicação, otimização do tempo e da eficiência, além da comodidade na execução das atividades cotidianas, tanto pessoais quanto profissionais, representam apenas alguns dos ganhos notáveis. No entanto, é crucial avaliar até que medida a incorporação da tecnologia traz benefícios para nosso bem-estar. Conforme uma investigação conduzida por Cary Cooper, um professor de Psicologia Organizacional e Saúde na Universidade de Lancaster, o uso desmedido de dispositivos como smartphones, tablets e similares pode resultar em problemas como depressão, estresse e insônia.

Veja a abaixo quais são os principais problemas, além de dicas para evitar ou, ao menos, minimizar os seus efeitos:

 

Insônia:

 

A prática de utilizar computadores na cama para assistir a programas de televisão, filmes e séries, bem como o hábito de usar o telefone celular na cama para jogar ou navegar na internet e trocar mensagens, demonstrou estar intimamente ligado a perturbações do sono, tais como a insônia. Além disso, nota-se a alteração no ciclo circadiano, pela diminuição na produção de melatonina, especialmente quando ficamos sob esta incidência no período noturno, induzindo à insônia. Com isso, o cérebro, ao invés de preparar o corpo para dormir, se mantém alerta e estimulado. É necessário desconectar e desacelerar o pensamento para que as ondas cerebrais fiquem mais lentas e o sono venha. Quanto mais tarde esse processo acontece, menos horas dormimos.

 

Perda de foco:

 

A perda de concentração é igualmente uma das consequências sérias que surgem quando a tecnologia é utilizada de forma indiscriminada. Para prevenir tal cenário, a abordagem mais eficaz é se envolver em atividades que exijam foco apurado, como por exemplo resolver quebra-cabeças, jogar sudoku, solucionar palavras cruzadas, se dedicar à costura e até mesmo praticar atividades que exijam equilíbrio.

 

Cansaço e dores físicas:

 

O uso excessivo de dispositivos eletrônicos como computadores, celulares, tablets e videogames também contribui para o surgimento de várias condições ortopédicas e musculares. A realização repetitiva de movimentos para digitar e jogar pode resultar em problemas como tendinite e bursite, além de diversas outras lesões ou disfunções articulares devido ao hábito de inclinar a cabeça para baixo ao ler e responder mensagens, postar conteúdo e verificar notificações em redes sociais. É de suma importância adotar uma postura corporal adequada durante a utilização de qualquer tipo de aparelho eletrônico. Também é essencial alinhar os braços para digitar e ajustar os dispositivos a uma altura que evite a necessidade de olhar para baixo constantemente.

 

Depressão:

 

Estudos recentes apontam que o aumento da depressão está relacionado à maior utilização do tempo na internet. A linha tênue entre o mundo real e o imaginário pode desencadear uma série de complicações de natureza psicológica, individual e social. Diante disso, quando o uso dos dispositivos eletrônicos é mantido, pode fomentar e até agravar distúrbios de ansiedade, transtornos obsessivo-compulsivos, desvios comportamentais ou atitudes antissociais, depressão e até mesmo tendências suicidas.

 

Saúde Ocular:

 

É conhecido que os distúrbios visuais afetam pelo menos 50 milhões de indivíduos no Brasil, conforme indicado por dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Desses casos, 60% estão ligados a problemas de cegueira e deficiência visual associados à Síndrome da Visão de Computador (CSV), uma condição relacionada ao uso prolongado de dispositivos como computadores, televisores e tablets. Isso pode resultar em sintomas como olhos vermelhos e irritados, dores de cabeça e outras manifestações. Além disso, outros problemas decorrentes desse hábito incluem fadiga ocular e ressecamento dos olhos, que tendem a impactar mais os idosos. Os sintomas podem ainda abranger dores de cabeça, resultantes da fixação intensa dos olhos na tela, o que reduz a frequência de piscar e diminui a lubrificação da córnea. É sugerido que as pessoas alternem o uso de telas com momentos de foco em objetos distantes, preferencialmente ao ar livre, e adotem o uso de lubrificantes oculares, sempre com orientação médica. Além disso, uma boa noite de sono é fundamental para aliviar os sintomas, pois proporciona o descanso necessário aos olhos.

 

A luz azul pode induzir o estresse oxidativo na retina, o que por sua vez pode acelerar o envelhecimento ocular e aumentar o risco de desenvolvimento de condições como a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI), catarata precoce e ceratite (inflamação da córnea).

 

Quando nos encontramos diante de monitores e telas, é necessário um esforço visual adicional para focar de perto, o que pode contribuir para o aumento do tamanho do globo ocular, levando ao surgimento de problemas de refração. Para mitigar esses efeitos, é recomendado afastar-se dos dispositivos a cada hora, reservando cerca de 10 minutos para descanso; dedicar de quatro a oito horas por semana a ambientes ao ar livre; preferir monitores de tamanho amplo e ter cautela com a intensidade excessiva da luminosidade.

 

Além dos efeitos do uso excessivo de eletrônicos, também há outros hábitos que podem acarretar em prejuízos à visão de forma geral. Abaixo temos algumas dicas de como se proteger e favorecer a sua saúde ocular:

 

Use óculos e/ou lente com filtro de luz azul:

 

As lentes oftálmicas equipadas com filtro de luz azul, prontamente disponíveis no mercado, reduzem a foto toxicidade entre 10,6% e 23,6%, mantendo ao mesmo tempo o desempenho visual intacto. Por essa razão, essas lentes têm sido propostas como um complemento útil na proteção dos olhos contra os potenciais efeitos nocivos da luz azul. O uso de óculos com filtragem seletiva da luz azul-violeta durante a noite pode contribuir para melhorar tanto a qualidade quanto a duração do sono.

 

Consuma alimentos ricos em vitaminas:

 

Entre as vitaminas essenciais para manter uma visão saudável, destacam-se as vitaminas A, E e C, presentes em alimentos de coloração roxa, vermelha e alaranjada, como açaí, jabuticaba, abóbora e mamão. Essas vitaminas atuam como antioxidantes, combatendo os radicais livres e desacelerando o envelhecimento dos olhos.

 

Consuma alimentos ricos em minerais e gorduras:

 

O zinco, magnésio e cobre são altamente recomendados. No que tange às gorduras benéficas, o ômega 3 desempenha um papel fundamental na lubrificação ocular e na mitigação da síndrome do olho seco. Além disso, o consumo de alho cru demonstra benefícios para o glaucoma, uma vez que exerce eficácia na redução da pressão intraocular e sistêmica, devido a suas propriedades vasodilatadoras.

 

Consuma alimentos ricos em Carotenoides:

 

Outra fonte valiosa de antioxidantes são os alimentos ricos em carotenoides como a luteína e zeaxantina, predominantes em vegetais de tonalidades amarelas, alaranjadas, vermelhas e verdes, tais como nectarina, laranja, mamão, pêssego, brócolis, couve-de-bruxelas, repolho, couve-flor, ervilha, milho e rúcula.

 

Sedentarismo:

 

O estilo de vida sedentário associado ao uso extensivo de dispositivos digitais está contribuindo para o aumento dos casos de obesidade. Isso, por sua vez, pode acarretar em consequências negativas à saúde, por exemplo surgimento de doenças cardio metabólicas, como diabetes, alterações nos níveis de colesterol, hipertensão arterial, infarto e acidente vascular cerebral (AVC).

 

Para garantir que o uso de eletrônicos não prejudique nossa qualidade de vida, é fundamental adotar uma abordagem consciente. Isso significa equilibrar o tempo gasto em telas com o tempo dedicado ao convívio com pessoas queridas e à realização de atividades ao ar livre. Ao reconhecer os benefícios da tecnologia, como a acessibilidade à informação e a facilidade de comunicação, podemos usá-la de maneira estratégica em nossas vidas. Estabelecer limites para o uso de dispositivos eletrônicos e fazer pausas regulares podem ser passos valiosos para preservar nossa saúde mental, física e emocional.