A depressão é uma das doenças psiquiátricas mais conhecidas e faladas atualmente. É marcada principalmente pelo desânimo, pessimismo e pela sensação de tristeza profunda. No entanto, existe um tipo da doença em que os pacientes não apresentam apenas sintomas depressivos. É a chamada depressão psicótica.
“A depressão psicótica é uma forma grave de depressão e aparece nos transtornos depressivos, tanto no unipolar quanto no bipolar”, afirma a psiquiatra Ana Paula Bechara. O tipo unipolar é o mais clássico e frequente, enquanto a depressão bipolar é uma forma que se desenvolve junto ao transtorno bipolar.
“Ela é manifestada por meio dos sintomas depressivos, que são acompanhados dos sintomas psicóticos, como delírios e alucinações“, diz a médica. Quem é diagnosticado com a depressão psicótica pode ouvir vozes e ver pessoas que não existem. Muitos pacientes acreditam estarem sendo ameaçados e perseguidos e é difícil convencê-los do contrário.
O tratamento da depressão psicótica vai depender do diagnóstico. “Se é uma depressão psicótica ligada ao transtorno afetivo bipolar, geralmente, além do uso de antidepressivo e antipsicótico, é necessário também o estabilizador de humor. Se for ligada à depressão maior, que é a depressão unipolar, trata-se com antidepressivo e antipsicótico”, diz a profissional.
Os psiquiatras costumam indicar ainda terapias para o tratamento da depressão psicótica, já que é muito importante tratar a parte psicológica também: “Eu sempre associo terapia para os meus pacientes, exceto nos casos muito graves, em que a gente precisa tirar o depressivo da fase aguda para depois começar a terapia”, relata Ana Paula.
QUANDO PENSAR EM DEPRESSÃO?
Tristeza não é sinônimo de depressão. O episódio depressivo se caracteriza pela presença, por pelo menos 2 semanas consecutivas, de 5 das 9 manifestações a seguir, ocorrendo na maior parte do dia, quase todos os dias; obrigatoriamente uma das manifestações deve ser humor deprimido ou perda do prazer em atividades:
-Humor deprimido: sentir-se triste, sem esperança; isso pode ser percebido por outras pessoas;
-Diminuição ou perda do prazer em atividades: menor interesse em passatempos ou em atividades que anteriormente o indivíduo considerava prazerosas; o individuo muitas vezes fica mais retraído socialmente;
-Inquietação ou estar mais lento que seu habitual, e isso é percebido por outras pessoas;
-Alteração de apetite e/ou de peso: pode ser para mais ou para menos, ou seja, pode ocorrer (de forma não intencional) aumento de apetite, aumento de peso, redução de peso, redução de apetite (exemplo: o indivíduo precisa se esforçar para se alimentar);
-Alteração do sono: excesso de sono ou insônia;
-Fadiga ou falta de energia: cansaço mesmo sem esforço físico pode ser relatado pelo indivíduo, bem como dificuldade em realizar tarefas;
-Sentimentos de inutilidade ou de culpa excessiva ou inapropriada: o indivíduo pode, por exemplo, ficar ruminando pequenos fracassos do passado;
-Dificuldade de se concentrar ou de pensar: os indivíduos podem se queixar de dificuldades de memória;
-Pensamentos de morte ou planejamento para cometer suicídio.
Tais alterações representam mudança em relação ao funcionamento anterior do indivíduo, e causam sofrimento e/ou prejuízos no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
Lembre-se: depressão não é só no setembro amarelo! Se você sentir que está diferente do seu habitual ou notar diferença em alguém com quem convive, procure ou oriente a procura de ajuda médica e psicológica!
Dra. Ana Paula Bechara Marquezini Gazolla é psiquiatra com residência médica pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (MG). CRM-SP: 165290
Foto: Shutterstock