Nos dias atuais, a obesidade tem crescido em todas as faixas etárias, refletindo as mudanças globais nos estilos de vida e o envelhecimento da população. Essa condição é caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo (gordura acumulada) e tornou-se um sério problema de saúde pública devido às suas conexões com diversas enfermidades.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) utiliza o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) como uma ferramenta para avaliar o estado nutricional dos indivíduos. Recentemente, a OMS revisou as terminologias, substituindo “sobrepeso” por “obesidade” para IMC igual ou superior a 30 Kg/m². Essa mudança destaca a urgência de compreendermos a obesidade na terceira idade, considerando não apenas os aspectos físicos, mas também os desafios específicos que ela apresenta para os idosos. Explorar os impactos, fatores de risco e estratégias para abordar essa realidade crescente é essencial.
À medida que as pessoas envelhecem, ocorrências de diversas complicações relacionadas à obesidade tendem a se intensificar, tais como:
Hipertensão arterial sistêmica (HAS);
Diabetes mellitus;
Doença cardiovascular
Síndrome de apneia/hipopneia do sono;
Osteoartrite;
Certos tipos de câncer como como o câncer de mama, intestino, vesícula biliar, pâncreas, rim, bexiga, útero, cabeça e pescoço e próstata.
Esse aumento na prevalência destas condições durante o processo de envelhecimento destaca a importância de compreendermos a interconexão entre o envelhecimento e as complicações associadas à obesidade, reforçando a necessidade de estratégias de prevenção e manejo específicas para a população idosa.
Essa complexa relação se estende também a impactos emocionais, aumentando a probabilidade de depressão. Além dos desafios físicos, a obesidade contribui para a limitação da mobilidade, dificuldades de locomoção e, consequentemente, prejudica a participação em atividades sociais. Assim, abordar a obesidade é essencial não apenas para a estética, mas para preservar o bem-estar físico e emocional, promovendo uma qualidade de vida mais saudável.
Fatores que causam a obesidade
O envelhecimento, por si só, apresenta fatores que contribuem significativamente para o aumento do risco de obesidade na população idosa. À medida que envelhecemos, há uma diminuição natural da massa muscular e uma desaceleração da taxa metabólica, o que cria um ambiente propício para o ganho de peso. Essas mudanças fisiológicas tornam a gestão do peso mais desafiadora para os idosos, destacando a importância de estratégias específicas para essa faixa etária.
No Brasil, a falta de recursos financeiros entre a população idosa, muitas vezes dependente de aposentadorias, impacta diretamente na qualidade da alimentação. A priorização de gastos em medicamentos frequentemente resulta em escolhas alimentares monótonas e de menor custo, negligenciando o valor nutricional e contribuindo para a prevalência da obesidade nessa população.
Abaixo temos os principais fatores de risco associados à condição de obesidade que atinge à população idosa.
Alimentação inadequada: O consumo de uma dieta rica em gorduras animais, açúcares e alimentos refinados, é associada ao surgimento de doenças cardiovasculares e obesidade, representando um desafio adicional para os idosos. Importante reforçar que a combinação de dietas de alta densidade energética com um estilo de vida sedentário destaca-se como um fator determinante para o aumento da obesidade em nível global, incluindo a população idosa.
Sedentarismo: Evitar o sedentarismo é especialmente relevante para a população idosa, onde a falta de movimento pode favorecer o acúmulo de gordura, aumentando o risco de obesidade. A prática regular de atividades físicas, como caminhada e natação, assume um papel fundamental na prevenção e combate à obesidade em idosos. Tais atividades não apenas impulsionam o metabolismo e promovem o gasto de energia, mas também contribuem significativamente para a queima de calorias, facilitando a perda de peso. Além disso, o exercício físico melhora a saúde metabólica e fortalece o sistema cardiovascular, fatores cruciais para o bem-estar dos idosos.
Uso de medicamentos: O elevado índice de utilização de medicamentos entre os idosos pode desempenhar um papel significativo no aumento da incidência de obesidade. Medicamentos para reposição hormonal e corticoides por exemplo, frequentemente prescritos nesta fase da vida, têm o potencial de favorecer o ganho de peso, promovendo a obesidade devido ao inchaço e ao estímulo aumentado do apetite. Portanto, ao conversar com o seu médico, é importante discutir não apenas os benefícios terapêuticos, mas também os possíveis efeitos no peso corporal. Essa conscientização e diálogo aberto contribuem para um tratamento mais consciente, permitindo que o paciente participe ativamente na prevenção da obesidade, integrando cuidados com a saúde física e o peso.
Sono inadequado: Quando não dormimos o suficiente, há um desequilíbrio entre duas substâncias no nosso corpo: a grelina, que aumenta nosso apetite, e a leptina, que nos faz sentir saciados. Esse desajuste pode nos levar a comer mais, favorecendo o ganho de peso e, consequentemente, a obesidade. Por isso, manter uma rotina de sono saudável não apenas nos revigora, mas também age como uma estratégia fundamental na prevenção da obesidade na terceira idade. É essencial entender que uma boa noite de sono não só nos energiza, mas também desempenha um papel crucial em nos manter longe dos riscos associados à obesidade.
Fatores genéticos: A predisposição genética pode desempenhar um papel na suscetibilidade à obesidade e isso não é diferente na população idosa. Nossa genética influencia como nosso corpo regula o peso. Há centenas de genes em nosso DNA que têm um papel importante na definição do quanto comemos, como queimamos energia e como nosso corpo lida com a insulina, o que pode afetar o peso corporal. Dessa forma podemos perceber por que algumas pessoas têm maior propensão genética à obesidade.
Quais os riscos da obesidade na terceira idade?
A obesidade causa complicações clínicas graves, com consequente aumento da morbidade, impacto na qualidade de vida e morte prematura. Dessa forma, o excesso de peso corporal pode contribuir para o desenvolvimento de doenças durante o processo de envelhecimento. Abaixo temos as principais complicações causadas pela obesidade:
Osteoartrose: A osteoartrose é uma condição que afeta as articulações e pode levar à incapacidade física. Ela é mais prevalente em idosos obesos, especialmente nos joelhos. O excesso de peso ao longo dos anos coloca uma pressão constante nas articulações, contribuindo para o desenvolvimento dessa condição;
Diabetes Tipo 2: Na terceira idade, a obesidade pode aumentar consideravelmente o risco de desenvolver diabetes mellitus tipo 2. Cerca de 45% das pessoas diagnosticadas com diabetes mellitus tipo 2 apresentam excesso de peso, com um índice de massa corporal (IMC) superior a 30 kg/m². A obesidade, especialmente quando há acúmulo de gordura na região abdominal, pode levar ao que chamamos de resistência à insulina. Isso significa que as células do corpo têm dificuldade em responder adequadamente à ação da insulina, um hormônio crucial para controlar os níveis de açúcar no sangue. Essa resistência pode resultar em um aumento persistente dos níveis de glicose no sangue, contribuindo para o desenvolvimento do diabetes mellitus tipo 28;
Hipertensão Arterial: A hipertensão arterial sistêmica (HAS) afeta entre 30% e 50% dos idosos, e a obesidade está diretamente correlacionada a esse quadro na população idosa. Quando estamos acima do peso, isso afeta diretamente como o sangue circula pelo nosso corpo e aumenta a resistência nos vasos sanguíneos. Disfunção endotelial (quando as células que revestem os vasos sanguíneos não funcionam corretamente), resistência à insulina, hiperatividade do sistema nervoso simpático são alguns dos fatores que contribuem para essa correlação;
Doenças cardiovasculares: O excesso de peso, especialmente a gordura ao redor dos órgãos na barriga, pode aumentar o risco de problemas cardíacos. Essa gordura abdominal pode obstruir as artérias, tornando mais difícil para o coração funcionar como deveria. O problema acontece porque as células gordurosas que se acumulam produzem substâncias inflamatórias que ficam nos vasos sanguíneos. Essas substâncias formam placas de gordura que bloqueiam o caminho do sangue, podendo levar a problemas sérios, como infartos e derrames;
Apneia obstrutiva do sono: o excesso de peso, principalmente a gordura ao redor do abdômen e pescoço, pode aumentar o risco de um distúrbio do sono comum – a Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS). Nas pessoas com excesso de peso, a presença de tecido adiposo nessas áreas compromete a passagem de ar. Durante o sono os músculos relaxam e para os indivíduos obesos há maior probabilidade de obstrução das vias aéreas, resultando em ronco e pausas na respiração, características da apneia do sono.